
Angels In America é talvez das obras mais belas alguma vez feita para a televisão.
Centrado no tema da SIDA no ínicio dos anos 80 e na forma como ela afectava maioritariamente os homossexuais, esta mini-série (que eu corajosamente vi non-stop os 352 minutos) ultrapassa tudo o que alguma vez tinha sido feito para a televisão.
8 personagens dão vida na tela a uma das mais bem sucedidas peças de teatro da Broadway, naquele que é de longe o mais talentoso elenco alguma vez reunido num filme. Apenas em The Hours, Closer (também realizado por Mike Nichols) ou Magnolia é possível comparar o calibre do elenco e o sentido que fazem como um todo. Aqui não há actores secundários e mesmo os papés mais pequenos são tratados com a mesma carga emocional que todos os outros, não fossem estes alguns dos melhores actores vivos.
A encabeçar este grupo temos Al Pacino. Ou melhor, Roy Marcus Cohn. Um advogado desprezível que é capaz de tudo para alcançar poder. Quando lhe é diagnosticada SIDA este recusa-se a perder o seu
status e não admite perante os outros que tem "a doença dos homossexuais", como era conhecida no início dos anos 80.
Joseph Pitt(Patrick Wilson) e Harper Pitt (Mary-Louise Parker) são um casal problemático. Ela vive uma constante depressão, afogada em comprimidos tenta imaginar um mundo melhor, tem delírios de uma vida melhor, longe das mentiras. O único conforto que obtém é quando fala com os seus amigos imaginários ou quando está com o marido. Ele, por outro lado, vive uma vida de farsa. É um respeitado advogado, republicano e mórmon, que tudo faz para parecer normal. Mas, na realidade é um homossexual não assumido. Nem mesmo para si próprio. Toda a sua vida tentou reger-se pela moral e pelos ensinos que a sua religião ditava, fugiu por isso ao que realmente era.
Meryl Streep é Hannah Porter Pitt(para além de um fabuloso Rabi no tribunal e mais um mão cheia de outros personagens), a mãe de Joseph. Quando o filho lhe revela a sua homossexualidade esta vende a casa aonde sempre viveu e vai viver com o filho para Manhattan. Tenta perceber aonde falhou e procura sentir-se útil para em troca sentir amor, que há tanto deixara de receber.
Prior Walter (Justin Kirk) e Louis Ironson (Ben Shenkman) são um casal gay que vive uma vida feliz até Prior contrair o vírus da SIDA. Louis fica aterrorizado com a ideia de suportar os últimos dias de Prior e deixa-o só, doente e à beira da loucura. Belize (Jeffrey Wright), um enfermeiro gay, é quem acaba por cuidar de Prior.
Emma Thompson é o Anjo da América. Desceu à terra para avisar Prior que Deus abandonou anjos e humanos porque a vida na terra caminha para o fim. Os humanos auto-destroem-se com as suas inovações e uma constante sede de mudança. Cabe a Prior espalhar a mensagem. A actriz faz também o papel de enfermeira de Prior e uma sem-abrigo.
Angels In América é delicado de rotular. É um filme sobre a morte, a Sida, as relações, a homossexualidade, a América, a solidão, a fé, a política. É sobre tudo isto e muito mais. Sobre tudo o que acreditamos. Brinca com os mundos que inventamos quando ninguém nos ouve, mas não tem medo de ser real, de nos cortar as asas e deixar-nos cair em nós. Provando que isso pode ser muito mais assustador do que a morte.
Passado na década de 80, quando a SIDA era um assunto que assustava muita gente, especialmente pela falta de informação disponível, esta obra é também uma crítica ao governo Americano. Particularmente ao governo de Ronald Reagan que pouco fez para travar a doença que hoje em dia mata grande parte da nossa população mundial. O mundo como um grande jogo político (que é) aonde prevalece a lei do mais forte.
O argumento da peça de teatro e a dapatção para a televisão foi escrita por Tony Kushner e é uma constante de emoções com diálogos dolorosamente bem escritos. Juntamente com as interpretações perfeitas de todos os actores e uma fabulosa realização de Mike Nichols, somos transportados para uma realidade, não utópicamente boa nem irremediavelmente má, apenas uma realidade. O universo humano decadente, iluminado pela presença do divino. O jogo sujo da política contrastado pela sinceridade e honestidade de alguns personagens. O real e o imaginário. Um sem fim de mundos paralelos, inevitavelmente ligados entre si. Que acabam também por se ligar a nós.
exactamente. o que me irrita é o desdém de algumas pessoas em relação à série, do género de comentários de ser uma série sobre gays, a maior parte das vezes estes proclamados criticos com comentarios depreciativos só viram flash's aqui e ali da série enquanto deu na dois, que foi onde eu a vi, graças a deus.